quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mito do Chip No Pato á Pequim.

Toca o telefone, três toques.
Artur atende mesmo a tempo, mais um toque e a Patrícia sua mulher desligava a chamada.
- Estou ?
- Sim ?
- Amor, antes de passares no infantário para trazeres o Frederico vai ao supermercado, traz uma garrafa de azeite e pão para o jantar.
- Especialmente hoje estava a pensar em algo diferente.
- Em quê ?
- Vou buscar o Frederico, levo-o a casa da tua mãe e vamos jantar fora.
- Bem pensado, hoje até nem estava com muita vontade de cozinhar.
- Estás a ver aquele restaurante chinês onde fomos jantar com o Jaime e a Beatriz?
- Sim, apetecia-me antes um belo bife á Portuguesa, mas se o meu amor lhe apetece chinês, que assim seja.
- O.k. vou só deixar o Frederico, e já te vou buscar .
Atravessar o itinerário complementar (I.C) mais movimentado da Europa ás sete da tarde não era tarefa fácil.
Ou seja, a tarefa até se revelou fácil, a rapidez é que nem tanto .
A avó Rita já estava á porta para receber o Frederico, previamente avisada com um telefonema do Artur enquanto conduzia o seu Hyundai santa fé.
Frederico acabara de ficar com a avó Rita, mas o Artur até chegar a casa ainda tinha que percorrer cerca de sete quilómetros.
Artur sobe dois lances de escada e entra no segundo esquerdo, apartamento que divide com a Patrícia há quatro anos desde que casaram.
- Amor cheguei.
- Estou no banho.
- Então vou só reservar lugar para dois á luz de velas, pela net .
Após uns longos quarenta minutos, estão os dois no conforto do seu automóvel.
Patrícia põe a tocar um C.D de musica romântica.
Aquela meia hora de viagem até ao restaurante pareceu apenas cinco minutos, na presença sempre agradável da sua mulher.
Á entrada dois imponentes dragões, esculpidos em madeira maciça .
Após o wall, uma simpática senhora vestida com um lindo kimone preto bordado a dourado, fazia a recepção e posterior encaminhamento dos clientes até ás mesas.
Duas velas com um agradável aroma ardiam dentro dos castiçais situados mesmo no centro da mesa.
Uma senhora um pouco mais velha que a anterior, com uma evidente cicatriz recentemente curada na mão direita, colocou duas ementas em cima da mesa.
- Já sei o que vou jantar.
Disse Artur.
- E eu vou arriscar em adivinhar o teu pensamento.
- Podes tentar, mas será em vão.
- Estás a pensar em Pato á Pequim.
- Acertaste.
- Da ultima vez que cá estivemos disseste, “- Para a próxima vou provar o Pato á Pequim .”
- Foi? Não me recordo.
Artur chamou a simpática senhora.
- Já sabem o que vão jantar?
- Já, vamos jantar os dois Pato á Pequim, visto só termos ouvido dizer bem dessa iguaria.
- E para beber?
- Traga-nos um bom vinho tinto português, mas antes do pato traga-nos duas sopas de ninho de andorinha .
Não se passaram mais que vinte minutos para que a senhora pousasse uma travessa bem recheada com Pato á Pequim, acompanhada de duas taças de arroz.
- Bom apetite.
Disse a simpática senhora, que agora já se afastava com um passo muito miudinho, para deixar o casal jantar em armonia no ambiente das velas.
- Que cheirinho agradável tem este pato.
Disse a Patrícia para logo de seguida começarem a comer.
- Este pato com arroz está divinal, mas dizem que o que dá muito sabor a este tipo de pato, é a pele bem passada ligeiramente queimada .
Afirmou Artur.
- Neste caso, não é a pele que dá o sabor, porque este pato não tem pele!
Exclamou a Patrícia para logo de seguida trincar algo muito duro.
Algo tão duro que fez com que lascasse um pouco de dente da sua forte dentição.
Por instinto e com o pânico engoliu.
O que quer que fosse.
Engoliu.
Agora as dores já não eram apenas nos dentes, mas também no abdómen.
Se haviam dores que doíam, eram aquelas.
Como se de facas a espetarem no estômago se tratasse .
Artur não pensou.
Apenas reagiu.
Pegou na sua esposa e saiu, pela porta fora do restaurante derrubando algumas cadeiras pelo caminho.
Hospital.
Era o caminho a seguir conduzindo o seu Hyundai.
Alguns telefonemas influentes, fizeram com que entrassem directamente para o gabinete de urgências do Dr. Jorge de Almeida.
Radiografar o abdómen seria o primeiro passo a dar após uns pequenos exames preliminares .
Uma cápsula.
Era exactamente o formato duma cápsula que estava a causar exuberantes dores no abdómen da Patrícia .
Passados alguns minutos, já ela se encontrava no gabinete de endioscopia , com uma sonda entrando-lhe pela garganta, e que finalizava no estômago.
Volvidos sete minutos e meio, já a dita cápsula havia sido retirada .
Não era uma cápsula.
Não era um ferro.
Não era um vidro.
Era um Chip.
Um Chip de identificação animal.
Cinco dias passaram.
E como tinham apresentado queixa na policia, era tempo de passar na esquadra para saber o resultado da identificação do Chip .
O chip pertencia a um Cão de raça PittBull de côr branca com o nome de Fight cujo dono era de nacionalidade Portuguesa.
Procurado pelas autoridades pelo facto do respectivo animal ter atacado uma cidadã de origem oriental, encontrava-se agora a monte procurado pelas autoridades .