sexta-feira, 25 de abril de 2008

Recolha ilegal de órgãos.

Nota de introdução.
Vamos partir do pressuposto que este mito é real, temos que acreditar que sim, para que a leitura se torne mais realista. Contudo temos que introduzir uma percentagem de fantasia, para que as nossas vidas possam decorrer, sem que sejamos levados á loucura.


A noite já ia bem entrada, por outras palavras todas as minhas noites de Sábado são assim.
Começam no salão de jogos lá da rua e acabam sempre imprevisíveis.
Mas havia algo neste preciso instante me estava a incomodar o estômago. Não sei se teria sido por ter comido pouco ao jantar, ou se seria pelo facto de ter bebido nove imperiais? Ou talvez por ter bebido também quatro shots. A música estava alta, as luzes da discoteca já me cegavam.
Estava tonto.
Indisposto.
A Minha cabeça parecia que ia estourar.
Dirigi-me á porta da saída de emergência, mas estava lá um segurança privado daquela instituição de divertimento.
-Deixa-me sair, estou indisposto preciso vomitar e acho que vou desmaiar.
-Não pode, esta é uma saída de emergência, o senhor tem que pagar e dirigir-se á saída principal.
-És surdo? Isto é uma emergência já te disse que vou vomitar.
-E eu já disse que...
O pior aconteceu, foi mais forte que eu, vomitei.
Não foi no chão, nem foi nos cortinados da porta da saída.
Foi exactamente em cima dos pés do segurança.
Muito antes sequer de me ter apercebido da quantidade de líquido que regurgitei, já estava a sentir as enormes e fortes mãos do segurança. Um trapo, foi isso mesmo que eu me senti nas mãos daquele homem. A porta de emergência foi finalmente aberta, através dela passei eu a voar sem tocar com os pés no chão, para por fim aterrar em cima de um porche carrera.
Atrás de mim veio logo o segurança, para me fazer pagar pelo meu erro. Os sapatos estavam vomitados, se estavam vomitados a culpa era minha, se a culpa era minha logicamente seria eu o saco de box. Agarrou-me pelo pescoço levantou-me no ar e preparou-se para me esmurrar a cara toda. Cerrou o punho e puxou-o bem atrás, quando ia desferir o golpe, simplesmente parou. A porta do Porche abriu-se, os curiosos que entretanto se juntaram para ver o extermínio, pararam, e viram sair de lá de dentro a loura com mais pinta que tinha aparecido por ali naquela noite.
Dirigiu-se a mim, os olhos azuis faiscavam de sensualidade, trazia um lindo vestido de noite, coberto de lantejoulas prateadas, os sapatos de salto alto agulha dificultam-lhe o andar, por entre as pedras da calçada, e aparentava ter cerca de vinte e oito anos.
-Jaime, desse cuido eu. Disse ela com um tom autoritário ao segurança.
E para meu espanto, ele largou-me. Como se de uma ordem se tratasse.
Ela encostou-se a mim, carinhosamente envolve-me o pescoço com a sua doce mão.
Inclinou-me sobre o seu peito, e dá-me uma valente joelhada bem no centro do meu fraco estômago.
-Esta foi por teres amolgado a chapa do meu carro.
Ao contorcer-me com dores, dobrei-me mais ainda sobre o estômago.
Foi quando recebi uma cotovelada nas costas.
-E esta foi por incomodares o Jaime.
Agora tudo tinha ruído á minha volta, para além de agora também me doerem as costelas, o estômago doía-me a triplicar.
-Jaime, dispersa os curiosos, fecha a porta e volta ao serviço.
Disse ela com voz forte e bem colocada.
De seguida agarrou em mim, envolveu o seu pescoço com o meu braço e arrastou-me para dentro do Porche.
-Como é que te chamas? Perguntou-me enquanto conduzia loucamente a velocidades impróprias para circular dentro da rotunda do Marquês.
-Pedro, chamo-me Pedro. Respondi-lhe num sussurro, a custo.
-Então e agora como é que tencionas fazer?
- Fazer o quê?
-Como é que vais pagar a porcaria das amolgadelas. Disse ela, no preciso momento que passava um sinal vermelho a 120 km/h.
- Não vou pagar nada, se não fosse o parvalhão daquele gorila a atirar-me para cima do carro nada disto tinha acontecido.
- O Jaime não é nenhum gorila.
- Vocês conhecem-se?
-Sim, a discoteca é do meu pai. Disse, fixando-me nos olhos.
Ouvimos o som estridente de uma buzina, olhamos para a frente, e um carro que vinha em máximos desviou-se de nós que circulávamos pela avenida da liberdade abaixo em contra-mão.
- És louca! Olha para a frente ou ainda nos matas.
Abrandou.
Pegou no Nokia n95 e fez uma chamada.
Disse três frases num dialecto estrangeiro, e desligou.
- Falaste com quem?
-Tenho fome.
-Ouviste? falaste com quem? E que língua é essa?
Disse eu com pouca autoridade.
- Não interessa, vamos comer a um lado qualquer.
- Pára, está ali uma roulotte que serve cachorros.
-Roulotte? Achas-me com cara de quem mata a fome a comer em roulottes?
- Vamos á Avenida a um sítio porreiro devorar uma tosta.
- Tosta ou cachorro, ambos não passam de lixo. Disse eu para logo após me arrepender.
O Porche travou a fundo, fez inversão de marcha e arrancou a patinar, fazendo com que eu batesse com a cabeça no vidro lateral e saísse fumo dos pneus traseiros.
Depressa atingiram os 130 km/h, dentro de Lisboa era alucinante. Até chegarem á Avenida era coisa de três minutos.
O roncar do motor do porche silenciou-se mesmo de frente á discoteca. Saíram os dois e ela atirou as chaves a um empregado, cujo trabalho era estacionar os carros dos mais dotados monetariamente.
Entraram em conjunto, as cerca de cento e cinquenta pessoas que dançavam ao ritmo duma música irritante estavam alheias á presença deles.
Encostaram-se ao balcão e ela pediu duas tostas e dois finos.
Não passaram cinco minutos e já as tostas estavam em cima do balcão.
Peguei na tosta e trinquei-a, olhei em redor e não vi a minha cicerone, que ainda nem sequer o nome dela sabia.
Pousei a cerveja e a tosta em cima do balcão dei dois passos em frente para ver se a via a dançar no meio da pista, e nada. Olhei para a saída e também não a vi.
Ao voltar para o balcão vi que os nossos lugares não só estavam ocupados como também duas lindas e atraentes jovens estavam a comer as tostas.
-Essa tosta é minha e aquela é da minha amiga.
-A imperial podes beber, agora as tostas decerto não vais negar a duas meninas famintas, pois não?
Com tanta coisa que me tinha acontecido nesta noite o melhor seria ignorar o acontecimento.
-Ok, como eu não sei da minha amiga podem comer as tostas, mas a imperial é minha.
-Tens nome?
-Tenho, sou o Pedro.
- Pedro estás a ver aquela mesa?
-Sim.
-Vamos para lá.
Dirigimo-nos a uma pequena mesa mal iluminada junto á pista de dança.
-Eu sou a Carla e a minha prima chama-se Rita.
- Muito prazer, desculpem eu hoje não estou nos meus dias, a noite está a correr-me mal, e não sei porquê estou a ficar com sono.
Ainda as ouví dizerem algo relativo ao meu sono, mas tudo deixava de fazer sentido.
As imagens estavam desfocadas.
A música era imperceptível, e só ouvia ecos.
Os olhos pesavam cada vez mais.
Não aguentei, e adormeci mesmo de frente daquelas beldades que queriam estar á conversa comigo a noite toda.
E quem sabe se algo mais se proporcionaria.
A partir do ponto em adormeci tudo para mim deixou de fazer sentido.
Acordei numa cama não sei onde nem a que horas, a olhar para mim estavam vestidas com uma bata branca a Carla e a Rita.
Doía-me o corpo todo e estava imobilizado, olhei para cima e vi a loura do Porche.
Vi-a pegar em dois frascos de algo que não reconheci, e preparou uma injecção que me fez dormir profundamente.
Tão bem que me soube o silêncio.
- Senhor, acorde.
Acordei, já era dia e estava na rua, um pastor dava-me bofetadas na cara para eu acordar.
Estava todo nu, dentro duma banheira cheia de pedras de gelo e sangue.
Assustei-me, levantei-me mas doía-me o corpo todo, mais concretamente na zona das costelas.
Olhei, e quase desmaiei.
A minha barriga tinha cerca de cinquenta pontos cirúrgicos, dos quais corria sangue a fio.
Fiquei tonto, rodopiei e desmaiei para dentro da banheira novamente.
Acordei novamente, mas desta feita já num hospital público.
Alguns dias passaram e tive alta.
No hospital disseram que fui raptado e que me foi roubado o rim do lado direito.
Também tentaram retirar parte do fígado, mas algo deve ter corrido mal e abortaram a operação, porque a intenção não era matar.
Também fui á polícia fazer queixa da filha do dono da discoteca.
Mas foi-me dito que essa discoteca tem duas donas sexagenárias, e que quem gere a discoteca são os netos, que têm cerca de trinta e cinco anos.
Quanto ao segurança, não trabalha na discoteca e nunca foi visto por aquelas bandas excepto naquele dia.